quarta-feira, 4 de junho de 2008

Gaiola dourada


Minha vizinha faz o tipo de mãe superprotetora.

Acho que se fosse possível, ela colocaria os filhos em uma redoma de vidro, longe de tudo e de todos.


Do mundo, da vida.

Compreensível até certo ponto. Que mãe quer ver os filhos sofrendo? Mas por outro lado, está criando crianças ignorantes a respeito de algumas verdades que são necessárias para sobreviver lá fora.


Na minha área, chamamos isso de miopia de marketing.

Que é o fato de não ver problemas a longo prazo nem como resolvê-los. É como ferver o leite e esquecer ele no fogo. Vai ter sujeira para limpar depois.


Os filhos dela são pequenos ainda. Mas tem olhos, ouvidos e o mínimo de inteligência, logo, são capazes de perceber as coisas ao seu redor.

Longe de mim, querer opinar sobre a educação deles, mas como em raras vezes me acomete, tive pena deles hoje.


Ela perguntou o que era “ficar”.

Dois deles responderam que era pecado, e só deveria ser feito depois do casamento.

A menina responde seguramente que eram beijos e amassos sem compromisso.

Ficou de castigo obviamente.


E aprendeu uma das primeiras lições da vida:

as pessoas nunca estarão preparadas para a confirmação de certas verdades. Todos sabem. Mas admitir nem sempre é uma boa coisa.


E foi com ares de decepcionada que ela foi para o canto da parede, pensar sobre o que disse, para mais tarde ser obrigada a voltar atrás e concordar com a opinião dada pelos outros irmãos.


Aprendendo mais uma lição: nos ensinam sempre a dizer a verdade. Mas as verdades bonitas, que não vá ferir os sentimentos e moral de ninguém.


Hoje, ela tem 10 anos ainda.

Logo terá a minha idade, 21 anos.

E vai descobrir por si mesma. Definir seu próprio conceito de certo e errado. De bom e ruim. Aí quem sabe, ela se torne uma “má pessoa”. Ou enlouqueça perante tantas doideras do mundo aqui de fora da gaiola dourada em que está acostumada a viver.


O fato é, que cedo ou tarde, ela vai experimentar.

E talvez experimente demais. E o que a mãe menos queria vai acontecer:

ela vai ser magoar.


Tiro de exemplo, meu felino de estimação. Prendo ele dentro de casa, mas ele insiste em namorar a soleira da janela. Porque quer ir embora e experimentar. Nasceu com talento para a boêmia. E tem livre arbítrio.


E nessas horas que me pego imaginando que se existe melhor maneira de mostrar amor à alguém, é dando liberdade a ela. Renúncia é a palavra que encontro no dicionário.

Ver a felicidade da pessoa, independente de onde e como for, e mesmo que longe de você.


Por isso também, meu instinto maternal não é muito afetado, porque creio que a única coisa que talvez eu ousasse ensinar à um filho é que se um dia ele precisar, vai ter para onde voltar.





É suficiente?
















But if you wanna leave, take good care, hope you make a lot of nice friends out there, just remember there’s a lot of bad and beware. Baby, it’s a wild world.