quarta-feira, 13 de janeiro de 2010
A poltrona verde fica!
A mudança havia começado naquele dia.
As escovas de dente estariam juntas, as roupas de ambos no armário do quarto, as chaves penduradas na porta, os chinelos lado à lado, cuecas e calcinhas dividindo o mesmo varal da lavanderia.
Apartamento 304.
Aqui se instalavam, e aqui seriam felizes. Como os casais comuns que em dias comuns, pregam placas comuns em suas portas com a frase comum: "home sweet home".
E para completar essa doçura, começou o aluguel, as compras, a divisão de tarefas e de problemas. Precisavam pintar a sala e os quartos, trocar o antigo carpete, e o banheiro, nem se fala.
Mas tudo era lindo, Até as baratas que vez ou outra surgiam pelo rodapé do "apê" tinham sua posição de prestígio na definição daquele lar. Pequeno. Abafado no verão, frio demais no inverno, longe demais do centro da cidade, fachada antiga e sem graça, mas ainda assim: lar.
E o inferno era só uma sauna .
Ela amava ele, ele amava ela, e juntos, tentavam amar o cotidiano. Esse foi o mais difícil.
Em períodos como esse, ocorre o fenômeno: quando a necessidade entra pela porta, o amor salta pela janela . Será que seria assim com eles?
No começo, as dúvidas eram compensadas com boas noites de sexo e dormir abraçados. No meio eram algumas discussões e irritações. E no fim, bem, esse ninguém quis ver. Mas foi eminente.
Ela engordou, não pintava mais unhas, e começou a queimar o arroz todos os dias.
Ele voltava tarde, dizendo que ficou preso no trabalho, a barba estava sempre por fazer e o futebol de quarta-feira foi esquecido.
Se negavam a ver o fim. Tampouco buscavam uma solução.
Culparam a estatística.
Sendo mais um casal em os outros tantos % que não conseguem viver juntos sob o mesmo teto.
A gota d'água aconteceu na sexta-feira à tarde.
Ele comprou uma poltrona verde para a sala.
Horrorosa e grande demais. Uma "pantufa" gigante, confortável para alguns, rídicula para a maioria.
A briga que aconteceu em seguida, foi porque ela não gostou da poltrona. Odiou na verdade. Cansada de engolir sapos, explodiu, triturou, moeu, fez das emoções um tremendo vatapá apimentado.
Ele então, revidou e disse que odiava as cortinas que a mãe dela havia dado de presente.
Ela chorou. Ele bateu a porta.
Separaram.
Agora, meses depois irão sair novamente.
E ninguém entendia.
Ninguém entendia que, algumas pessoas não combinam com nosso cotidiano. São melhores ocasionalmente. Como tequila que você toma de vez em quando pra quebrar o juízo e a noção.
E separar, é a melhor forma de ficar junto.
A poltrona verde?
Deve ter ido parar em algum antiquário, esperando ser o ponto de partida do próximo casal que queira um novo começo.
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2 comentários:
Acho que já li isso no seu fotolog ou estou louco tendo um déjà vu?
Melancolia "nervosa"!
É verdade, talvez o amor, não combine com a rotina...
Bjs
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