terça-feira, 23 de março de 2010

Quem procura...






Eu sempre soube que nunca tivemos nada de sério. Assim, pronunciado, declarado aos quatro ventos.
Mas até aí tudo bem. Não ter algo de sério perante os outros, não me impede de sentir que é sério para mim.

Movida por esse pensamento encorajador, que na época pareceu ser a maior verdade de todos os tempos desde a gravidade, resolvo me abster de pensar duas vezes antes de fazer alguma coisa, e decidi que iria surpreender você naquele dia: tinha conseguido na noite anterior, fazer uma cópia da sua chave.

E como um ladrão que se esgueira para roubar, assim eu queria que o fosse.
Roubaria você de vez, para mim.

A sempre racional, centrada, que nunca se abalava, seria diferente naquele dia.

Ao longo do caminho, pensava se alguém no mundo, amaria tanto à outro quanto eu amava você.

Chego na sua casa, abro a porta sorrateiramente, e entro no hall, seguindo direto para o seu quarto, onde eu sabia, tinha seu cheiro.

"Eu não deveria estar aqui, sem permissão".

E enquanto tiro a roupa, e coloco seu robe, encontro sua colônia e me perco em tudo aquilo que me lembra de você, seus cd's, as gavetas que reviro, e como um réu primário busco minha defesa perguntando:

"Você me perdoaria, amor, se eu dançasse no seu chuveiro, se eu deitasse na sua cama? Se eu ficasse a tarde inteira?"

Me permito queimar o seu incenso, e quando saio do banho, largada sobre sua escrivaninha, a carta que mudaria para sempre nossa vida:

"Oi, amor. Eu te amo tanto, amor. Encontre-me à meia-noite."

Uma caligrafia bonita, bem desenhada.
Contrastando com a minha: torta e mal feita.

A sua colônia sufocava, seus cd's arranhavam as músicas e seu incenso me enjoava.
Mas era a minha vista embaçada que me perturbava mais. Eram meus pés que tinham perdido o chão que me incomodava.


E finalmente, era ter amado demais que me fez sucumbir às lágrimas e cair no chão.






Nunca mais amei ninguém.
Mas espero que sinceramente você ame e seja amado.
Nem ódio consigo sentir mais.



Só consigo perguntar, todos os dias:






"Então você me perdoa, amor, se eu solucei no seu chuveiro? Se deitei na sua cama e chorei a tarde inteira?"

Um comentário:

Manuka disse...

Paradoxo da vida...

Quando e crescer quero escrever como você. bjs bjs