terça-feira, 12 de janeiro de 2010

Tóxica



Sou uma pessoa tóxica.

Como uma planta venenosa, uma erva daninha, uma coisa ruim, como um presságio daqueles que arrepiam a nuca.

Mas como as plantas e ervas, e demais coisas ruins que rondam as pessoas, é uma natureza, que você não controla, nem sabe porque está lá. Numa dessas, foi o ar quem trouxe toda esta ruindade.

Entranhando todo o seu ser, te modificando e te deixando diferente de quem costumava ser.

Uma pessoa boa. Do tipo que se quer ter ao lado para contar segredos e compartilhar os sonhos.

As pessoas tóxicas são as mais solitárias do mundo.

Pois sofrem do pior tipo de solidão: a de si mesmo.

Em algum ponto da existência, perderam esta condição, e deixaram de existir.

Seja por medo, por trauma, ou desilusão.

E tudo aquilo de bom que antes havia dentro delas, desaparece como por encanto.

E se torna um veneno.

Um jardim, que ao invés de flores, crescem espinhos.

Mas não culpe estas pessoas, talvez elas nem mesmo sabem dessa natureza auto-destrutiva que possuem.

O mais triste (ou cômico de tudo, dependendo do modo de vista) é que todos buscamos, no final das contas, as mesmas emoções e sentimentos, gotas de entusiasmo e notas de êxtase. E nem todos conseguem.

Alguns, como nós, os tóxicos, nascemos sem a capacidade de relacionamento, de se doar, de amar e saber deixar ser amado.

E quando essas certezas vão se acumulando ao longo do tempo, nos afastamos de tudo e todos aqueles que, ao contrário de nós, esbanjam felicidade e amor. Diferente do egoísmo, a toxina desta tristeza tem raízes mais profundas: vem da frustação das amizades perdidas e dos romances falhos. É um cansaço emocional. Pior do que um coração, é uma alma cansada de viver.



Estar ao lado de alguém, em sua tristeza é fácil, enxugar uma lágrima não é o mais árduo dos trabalhos.

Mas meu amigo, estar ao lado na felicidade, e agüentar aquela enxurrada de sorrisos, quando você por dentro está um lixo, aí sim, é prova de fogo.

Por isso, você se afasta.

Para não infeccionar as pessoas, deixar que se contaminem dia após dia com sua tristeza que parece não ter mais fim.

Conversa pouco, nada mais sabe sobre o que se passa na vida de seus amigos mais próximos, e opta por esquecer por completo da sua.

Entra em uma banheira cheia d’agua, afunda o corpo dolorido, de dores que você nem ao menos sabem de onde vem, e fecha os olhos, e em flashs, vê sua vida passar em 60 segundos.



E em silêncio, pede desculpas.

Por não ser assim, mas por estar assim.

E como quem convida para um churrasco de fim de semana, você convida à todos queiram entranhar e se estranhar.



















Não ignorem os avisos.








Eu sou uma pessoa tóxica.

4 comentários:

Manuka disse...

Gostei do texto. Então a tóxica é a escritora ou a outra personalidade dela? Vou me lembrar da última frase quando nos conhecermos.
Bjs

Guga disse...

A toxina é uma defesa natural, mas em excesso é mortal ao portador assim como para os expostos a ela.

Conheço pessoas tóxicas. (Agora nem tanto)

Anni Avlis disse...

Gostei ^^

Táva com saudades de ler seus textos. ^^


bjs

Rossana disse...

Forte, profundo e real.