Ao contrário do que dizia no poema do Casimiro de Abreu:
“Que saudades que tenho, da aurora da minha vida, da minha infância querida que os anos não trazem mais. Que amor! Que sonhos!”
Não sentia falta dessa aurora.
Nem do amor e dos sonhos. Até porque, foi o tipo de criança que não tinha muitos amigos e não brincava de boneca.
Brincava de ler livros para aprender a confundir os outros.
Que vez ou outra, se aproximavam dela para rir do seu jeito calado, da falta de experiência com os meninos, e da falta de graça nos traços do rosto dela.
Menina de óculos, baixinha e gordinha.
Mas talvez houvesse boa pessoa dentro dela.
Mas crianças podem ser extremamente cruéis. E foram com ela. De todos que ela aprendeu a detestar, lembrava nitidamente de uma menina. A popular. Se houvesse concurso para participar de um filme americano, de enredo manjado, e fazer papel de líder de torcida, ela ganharia disparado.
Magra.
Bonita.
Passava no corredor, e o torcicolo era geral.
Demorava a entender as matérias, mas compreendia rapidamente alguma sacanagem.
Tinha beijado na boca muito cedo, e talvez já tivesse perdido a virgindade antes mesmo de saber o que era.
Dez anos. Foi o tempo que passou. O patinho feio, não era mais tão feio. Longe de ser cisne ainda, mas ainda assim, muito melhor do que foi um dia.
Aprendeu a manha de conquistar as pessoas.
Era divertida, e irônica.
Inteligente e falava bem.
Tinha um emprego legal, fazia faculdade.
E viajava sempre.
Bebia melhor do que qualquer líder de torcida.
E não tinha garoto que não podia conquistar.
A garota popular?
Engordou.
Engravidou do mesmo namorado bonito da época do colegial. E até hoje não recebia pensão do pai da criança. Não conhecia lugar nenhum. E continuava sem entender as matérias. Enquanto uns evoluem, outros continuam iguais. E serão sempre, medíocres.
“Oi, tudo bom? Lembra de mim? Eu era sem graça, e você ria de mim, e mesmo eu nunca participando da lista das mais bonitas da sala, hoje sou melhor do que você jamais será.”
2 comentários:
Ah, mas eu dava tudo pra voltar para essa época...
Hehauhuiaheauaiha!
Responsabilidade Zero.
Lembrei da minha época de colegial, que tempo chato.
Ótimo texto, bjs
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