De madrugada.
De pijama.
De tédio.
À toa. E usando meias.
Ouvindo Roberto e Erasmo. Djavan e Bethânia.
Talvez seja horrível, ou até mesmo brega. Deveria ouvir Depeche Mode, pra me sentir depressiva cantando em inglês. É mais bonito. E ainda, mais do que talvez isso seja uma vertente da minha personalidade. Enchendo uma taça de vinho, até quase transbordar, e sugar com a boca o resto de vinho que ainda fica na garrafa e teima em não caber no copo. Enchendo também, a cabeça de pensamentos nada agradáveis. até QUASE transbordar.
O resto de pensamento que ainda sobrar na cabeça, vai junto pra garganta com aquele vinho que não coube no copo.
De todas as coisas, a depressão é a única coisa que não posso deixar transbordar.
Só as palavras.
Que eu queria que transcrevessem tudo aquilo que aflige a mente. E como um ácido, fizesse arder. Uma gastrite de pensamentos, que de tão hediondos, às vezes fazem doer o estômago.
E me deixa doente, fazendo uma rima tão manjada quanta aquela do filme: "As 10 coisas que eu odeio em você".
E é dessas rimas que todos gostam. Mas como descrever que vejo o sinônimo que define minha vida? Comum. E com sarcasmo e horror, reparo que tudo aquilo que falo, que cobro das pessoas que vivem comigo, é só um reflexo do que mais odeio em mim: meu jeito comum de ser. Nada de grandioso.
Por isso encho a boca pra falar dos "detalhes".
Nada de interessante. Cuspindo teorias sobre as "coisas simples da vida".
Nenhum amor. E berrando aos quatro ventos sobre os "doces momentos da vida à dois". Ousando comentar que já vivi algo mais intenso do que as meninas que estudaram comigo. Quando, na verdade, me prendi demais aos livros e dicionários, e elas foram viver.
Fiquei um pouco inteligente. De certo ponto de vista, elas mais burras. Ou eu mais invejosa. Ou questionadora: "por quê, a vida é tão mais fácil para alguns?"
E a resposta é uma só: também sou burra, ao final das contas.
E aquelas linhas que quando lidas, me fizeram tanto sentido, hoje, agorinha, com todo esse vinho fervendo no sangue, me dão nojo.
Porque tornou a existência mais complicada.
O preocupante deste quadro, é que acabo por convencer alguém, das mentiras que escrevo e falo. E nem lamento.
Convencer-se das mentiras que lhe agradam é opção sua.
E estranhamente, espero que como uma ressaca, esse cansaço da vida também suma.
Com algumas aspirinas, uma saída na noite vazia, e uma risada oca.
Pra ocultar como estou agora: desejando estar de TPM pra poder acusar o corpo de torturar a mente, sem razão de ser.
Mas não estou neste período.
Infelizmente.
E a culpa é apenas minha.
Quem sabe amanhã, essa bipolaridade me abandone e eu volte a escrever e discursar sobre o clichê que tanto agrada à outrem?
O ponto é que: estar bêbada, me deixa sóbria.
Um comentário:
Será que eu tava bêbado?
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