sábado, 23 de agosto de 2008

Desordem


Arrumando algumas coisas, jogando fora outras, de repente você encontra: A antiga caixa de fotos. Cheia de fotos. Muitas fotos.

E muitas lembranças. Logo hoje, que fazia um ano que você havia decidido que tudo o que sentia deveria permanecer naquela caixa.

Mas você também sabia que aquela súbita vontade de arrumar as coisas era uma desculpa inconsciente pra encontrar o que estava procurando desde o começo daquele dia, daquela data: sua caixa de Pandora particular. As fotos da viagem pra praia, do último Natal, do dia dos namorados. Aquelas que você tirou de surpresa dele quando ele estava distraído, as fotos tinham ficado desfocadas porque seu olhar de fotógrafa estava ocupado demais em fotografar o momento na sua mente, infelizmente as máquinas ainda não podiam fazer isso.


Mas você podia e fez isso muito bem.

Tiveram outros depois dele sim.

Mas de algum modo macabro era somente o rosto dele que você queria ver nas chamas da lareira, queimando e se distorcendo nas fotografias como fazia na sua memória.

Só não sabia ao certo ainda se queria mesmo o rosto dele nas chamas do fogo, ou deitado no seu travesseiro.


Cretino.

Sorriu consigo mesma, quando encontrou a foto em que estavam abraçados, em pleno inverno, seu nariz estava vermelho e as bochechas também. Céus, como estava horrível, mas como daria tudo pra voltar nesse dia, ficar com o cabelo despenteado de novo e saber que era feliz ali. Ali.


Naquela droga de abraço viciante. Acho que vou escrever pra você.

Páginas e páginas. Talvez desloque o pulso escrevendo.

E te mande a conta do médico depois. Mas o melhor de tudo será escrever e não te enviar. Vou até finalizar a carta da seguinte maneira:


“...ao ler essas mal traçadas linhas, onde quer que você esteja, e com quem quer que esteja trepando agora, espero que goze de plena saúde e que ao menos durante 30 segundos dessa sua vida ordinária você se lembre que foi comigo que você transou em cima do capô do carro do seu pai, e que mesmo naquela lata velha empoeirada, você era a melhor coisa, afinal, amei você seu bastardo charmoso.”




Pronto.

Iria escrever. Colocar no envelope, selar, e...












Por pra queimar junto com as fotografias.

Ótimo.

Que droga.



Deveria viajar até Bora-Bora e passar um mês lá.

Ou quem sabe uma panela de brigadeiro.

Ou um tiro de auto piedade.




Seria a melhor opção mesmo.














Chame-me de querida.














Não sou sua querida.

Um comentário:

Manuka disse...

Adoro as frases contraditórias, e como você utiliza o humor negro em seus textos.
Sempre me surpreendo com eles, o amor mostrado de forma nua e crua.
Às vezes com românticos. Outras vezes com muita ironia.
Muito bom, beijos.