sexta-feira, 1 de agosto de 2008

Prices she pays...


Chovia naquela madrugada.
Mais uma daquelas garoas, que você mal pode ver, mas que te deixam imensamente molhado só de ir da sua até a esquina, na loja de conveniência 24hrs para comprar cigarros.
Essas lojas, realmente eram uma boa coisa. 24hrs.
A madrugada inteira, ao seu dispor. Ao dispor de todo seu tédio e insônia.
O que, vendo pelo lado rentável da coisa, você era uma cifra fixa, uma vez que sempre estava lá, como a Cinderela que saía do baile à meia-noite, você atravessava a rua, às 3 da manhã até a esquina, cruzando a curta distância que separava você da prateleira de chocolates, do freezer repleto das suas bebidas preferidas (mas da qual você sempre retirava a mesma garrafa verde) e por fim do caixa, onde estava a mesma loirinha de todas as noites com sua beleza natural e sem graça pronta pra entregar o maço do cigarro, que até ela, já sabia de cor, era o seu preferido. E a conta era sempre a mesma: R$ 11,50.
Seria esse o mísero preço do seu cotidiano? Da sua falta completa de sono, repleta de todo aquele cansaço mental das últimas semanas?

Já havia ouvido por aí (e até mesmo concordava) que as pessoas costumam ter um preço.
Nem sempre pago em dinheiro ou com os famosos cartões de crédito (aqueles das propagandas com as pessoas bonitas que descobrem no final da noite que certas coisas não tem preço). Mas, fato que sempre havia um “porém” naquilo que as pessoas buscam para si.
Os deuses dizem: “pegue, e pague por isso”.
De qualquer forma, pensava ironicamente naquele momento: R$11,50 é um preço relativamente baixo para alguém vender a si mesmo. Vender seu sono e sua, por que não dizer, paz de espírito.

Com essas divagações sem sentido na cabeça, ia refazendo o caminho de volta para o purgatório, retrata-se: casa.
Tira o casaco molhado pela chuva fina (aquela que mesmo que você não veja, te molha até os malditos ossos) sacode o cabelo, assumindo um aspecto deprimente de quem não dorme há semanas e tem os olhos sombreados por olheiras nada atraentes.

Conversa com o gato preto de estimação.
Caminha pela casa às escuras, e acende o cigarro, tragando, sorvendo a nicotina como se fosse um pedaço da sua vida. E na hora, sente os efeitos no pulmão, e sabe automaticamente que amanhã terá que trocar a visita à loja de conveniências, pela farmácia, e se dopar de outra coisa. Tanto faz.

Procura um dvd.
E se cansa do filme na metade. Já sabia o final, e assim como a rotina, a sétima arte não surpreendia mais. Apenas se perguntava, como alguém podia atuar a sua vida, e você ainda ter pagado pra ver ela na TV?

Rindo disso, volta o pensamento para Chaplin e o agradece pelos “tempos modernos”.

E de repente é interrompida pelo bichano se enroscando nas suas pernas, ronronando pra sair e dar a volta noturna que sempre o faz.

Abre a janela, e ele vai, feliz, sabendo exatamente onde quer ir, e pra onde voltar quando sentir fome e a vontade de tomar leite. E nem se importa em fazer o mesmo caminho de todas as noites...

Essa é você.
Quem dera, se toda a felicidade do mundo fosse uma soleira de janela e um passeio.






O problema deveria ser a loja 24hrs.
Ou os infernais R$11,50.

Nenhum comentário: