sexta-feira, 4 de abril de 2008

Aquarela



E pelas costas nuas, perfeitas de tão brancas, ele desce a língua.
Quente, úmida e gulosa.
Devora todos os cantos, centímetros, milímetros daquele corpo.
Decora os detalhes, as curvas e os contornos, o modo como se move sobre a cama, languidamente, retorcendo-se numa agonia muda.

Como mexe o quadril, como usa as mãos...os dedos pelo corpo, entrando onde quer sem pedir permissão nenhuma.
O olhar vago, enevoado que não enxerga nada além do objeto do desejo à sua frente.

A boca molhada, inchada pelos beijos ininterruptos, que sugavam todo o tesão, como uma corrente elétrica, um arrepio em resposta à sacanagem,
um gemido abafado, e palavras de um vocabulário sujo, ditas ao pé do ouvido.

Puxões de cabelo, arranhões, roxos pelo corpo, como se fosse uma brincadeira de ligar os pontos.







Mas faltava alguma coisa.
Só havia uma pessoa naquela tela.









Era uma pintura vazia, assim como sua espera.

Um pintor apaixonado pela sua tela, por sua beldade inacabada, pincelada em aquarela, cheia de movimento e ausente do mundo em que ele se encontrava todos os dias:




O da ilusão.

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