(...)
Deitada no divã...
- Me conte da sua infância.
- Ao inferno com a minha infância! Quero contar o dia de hoje. HOJE! Entendeu?
- Pois bem, que seja o dia de hoje então.
- Eu estava andando pela rua, pensando em mil formas de se matar uma pessoa, de preferência as maneiras mais dolorosas possíveis, e de repente, vejo uma borboleta: tão bonita, assim, na calçada.
- Sentiu alguma ligação com a borboleta?
- Sim.
- Por quê?
- Eu e ela em agonia. Minha agonia era mental. A borboleta estava com uma asa machucada e não podia voar.
- E você?
- A princípio tive pena.
- E depois?
- Resolvi ajudá-la. Sabia do que ela precisava.
- E o que você fez?
(...)
- Pisei na borboleta, lentamente, despedaçando suas asas e livrando-a da agonia.
- Um tanto cruel, não acha?
- A vida é cruel.
- Ela não tinha como voar mais, mesmo?
- Um pedaço está faltando, energia talvez. Não poderia encarar a vida sem estar completa, o vazio pesa nas asas e impede o vôo.
- Me referia a borboleta...
- Raios! Sou eu que estou no divã! Refira-se à mim!
- Mas foi as asas da borboleta que você despedaçou.
- Não possuo asas e tampouco, alguém pode despedaçar em mim o que já não possuo mais.
- E isso seria?
- O prazer de agonizar sozinha, sem que alguém venha analisar e procurar resolver.
- Você deixou a borboleta sozinha para agonizar?
- Não pude fazê-lo.
- Por quê?
- Sigo o curso natural das coisas. Pessoas são medíocres, preocupam-se com a vida alheia, e destroem oportunidades de escolhas. Mesmo que isso seja, optar por sofrer.
- "Não importa em quantos pedaços seu coração fo quebrado, o mundo não pára para que você o conserte."
- Seus honorários realmente valem a pena? Vejam só. Citando as palavras de outro alguém.
- Teria outra citação melhor?
- Mário Quintana: "O segredo é esmagar as borboletas, esquecer o jardim e deixar que elas não mais voem até você".
(...)
- A frase não é bem assim...
- Realmente. É que eu traduzi ela.
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