sábado, 26 de abril de 2008

No divã


(...)


Deitada no divã...


- Me conte da sua infância.

- Ao inferno com a minha infância! Quero contar o dia de hoje. HOJE! Entendeu?

- Pois bem, que seja o dia de hoje então.

- Eu estava andando pela rua, pensando em mil formas de se matar uma pessoa, de preferência as maneiras mais dolorosas possíveis, e de repente, vejo uma borboleta: tão bonita, assim, na calçada.

- Sentiu alguma ligação com a borboleta?

- Sim.

- Por quê?

- Eu e ela em agonia. Minha agonia era mental. A borboleta estava com uma asa machucada e não podia voar.

- E você?

- A princípio tive pena.

- E depois?

- Resolvi ajudá-la. Sabia do que ela precisava.

- E o que você fez?


(...)


- Pisei na borboleta, lentamente, despedaçando suas asas e livrando-a da agonia.

- Um tanto cruel, não acha?

- A vida é cruel.

- Ela não tinha como voar mais, mesmo?

- Um pedaço está faltando, energia talvez. Não poderia encarar a vida sem estar completa, o vazio pesa nas asas e impede o vôo.

- Me referia a borboleta...

- Raios! Sou eu que estou no divã! Refira-se à mim!

- Mas foi as asas da borboleta que você despedaçou.

- Não possuo asas e tampouco, alguém pode despedaçar em mim o que já não possuo mais.

- E isso seria?

- O prazer de agonizar sozinha, sem que alguém venha analisar e procurar resolver.

- Você deixou a borboleta sozinha para agonizar?

- Não pude fazê-lo.

- Por quê?

- Sigo o curso natural das coisas. Pessoas são medíocres, preocupam-se com a vida alheia, e destroem oportunidades de escolhas. Mesmo que isso seja, optar por sofrer.

- "Não importa em quantos pedaços seu coração fo quebrado, o mundo não pára para que você o conserte."

- Seus honorários realmente valem a pena? Vejam só. Citando as palavras de outro alguém.

- Teria outra citação melhor?


- Mário Quintana: "O segredo é esmagar as borboletas, esquecer o jardim e deixar que elas não mais voem até você".




(...)




- A frase não é bem assim...

- Realmente. É que eu traduzi ela.

Nenhum comentário: