terça-feira, 2 de novembro de 2010
Rotina
Tinha vestido uma blusa cinza naquele dia.
Sem graça, sem cor.
Para externar como ela se sentia por dentro.
Sem graça e sem cor.
Estava triste.
Uma tristeza que conhecia bem.
E como gripe ou dor de garganta, aquela tristeza a assolava de tempos em tempos. Só que, diferente de outras dores, aquela não tinha remédio certo.
Nem a família.
Nem os amigos.
O garoto bonito.
Filme na sessão da tarde, suas músicas preferidas, a viagem que faria na próxima semana, nada. Nada que chamasse a atenção dela, ou que a cativasse, nada.
Nem que ela ao menos notasse.
E era terça-feira.
Geralmente as segunda é que eram dias tristes.
Não a terça-feira.
Queria dormir.
Queria chorar.
Queria não querer.
Talvez sorrir ajudasse.
Mas a boca se negava a abrir um sorriso.
E se dormisse, perderia tempo.
O que fazer?
Como que passa?
E no rádio começa a tocar "Wonderwall" do Oasis.
Ai ai garota.
Como é complicado ser você!
quinta-feira, 28 de outubro de 2010
Descrição
Descrever a algo ou alguém. Narrar. Contar minuciosamente. Detalhar.
Escolha o tema da sua redação. É livre.
Em vinte linhas, fale sobre você.
Valendo nota bimestral.
Make a description about yourself.
Quem não lembra das vezes que a professora do primário pediu essa tarefa de descrição?
No jardim de infância, voc tinha argila pra modelar a sua famlia e os seus sonhos (que naquela época se resumiam última Barbie Noiva da loja ou no caso dos meninos qualquer brinquedo do momento). Na pré-escola era tão simples e legal fazer isso, porque parecia algo simples, e quem acabasse primeiro poderia ir pra casa mais cedo pra poder brincar pelo resto da tarde. No primário complicou um pouquinho, já que não tinha mais a argila pra modelar nem lápis de cor ou giz de cera.
E a pontuação errada era descontada, e você aprendeu a se descrever de forma mais resumida ainda, afinal toda redação de 20 linhas tem que ser objetiva, viajar no texto é especialidade encontrada nos livros de auto-ajuda.
No ensino médio essa tarefa virou um tremendo pé no saco, porque o seu novo professor de inglês resolveu que sua vida tinha que ser escrita em inglês (e também no espaço das malditas 20 linhas), então, sua gramática melhora, sua agilidade, em contar coisas banais que te valham a nota do bimestre, aumenta invariavelmente.
Na faculdade você não precisa mais fazer isso, porque ninguém mais quer saber da sua vida e isso não vale mais nota, e as 20 linhas também no existem mais. Então, de madrugada, você está na frente do computador, tomando chá e escutando os Everly Brothers, o status do msn está em off e todos na casa dormem.
Pela primeira vez, você se pega tentando descrever a si mesmo, contar realmente algo interessante que responda a simples pergunta: quem você?
Cara! Que porra de pergunta é essa? Você não a respondeu há anos atrás?
Qual a diferença agora? É porque não vale mais nota? Ou porque se você conseguir responder é indiferente porque não vai poder voltar mais cedo pra casa e poder brincar?
Veja bem...Eu não falo em simplesmente dizer: eu sou uma pessoa feliz e amiga, e bláblá... Esse papo furado pode ser reservado pro orkut. Ah, também não comece a se lamentar e contar das suas tristezas, ou dos seus amores perdidos ou do amor que papai q mamãe não te deram. Por mais que todos amem os coitadinhos, não seja um deles.
Esse papo mais furado ainda pode ser reservado pras terapias em grupo ou pras mesas de bar.
Falo em conseguir descrever, contar, explanar, os itens que você ainda não realizou, um tipo de "wish list" ou "check list".
As coisas que você ainda quer fazer antes de ficar velhinho e morrer de "morte morrida". Ou antes, de morrer atropelado por um fusca rosa choque. Se tudo que sobrassem fossem alguns minutos, e o flashback involuntário ocorresse, no que você pensaria? Em quem?
E quando voltasse novamente à vida, se voltasse, o que você deixaria para os que ficariam?
Sei lá. Talvez não dê de entender o que eu escrevi, ou seja, chato de ler, ou eu tenha o terrível defeito de escrever demais e não saiba resumir.
"Oi, meu nome é Joice, 23 anos, sou taurina e acredito na utilidade do acaso."
Mas acabei de descobrir que eu quero a argila e/ou as 20 linhas de volta.
sábado, 23 de outubro de 2010
Perfil
Minhas manias às vezes se tornam hábitos.
Observar as pessoas, e tentar imaginar o que elas fazem durante o dia, há muito deixou de ser mania para mim. É hábito.
Em qualquer lugar que você vá, o que quer que faça, em dado momento você se pega olhando a sua volta.
Escolhe uma pessoa e fica olhando.
O que será que pensa?
Vai se encontrar com alguém?
Tomou um pé na bunda?
Levou bolo?
E a capacidade absurda de imaginar me domina totalmente.
Se vejo um homem, de preto, com uma mala preta, acho tão mais interessante crer que ele pode ter matado alguém, ou roubado um banco, do que simplesmente estar indo para o trabalho enfadonho.
Ou uma mulher, toda arrumada, óculos escuros, com cara de desconfiada. Estaria indo visitar o amante? Ou quem sabe seguindo alguém...Seria ciumenta?
Ou ir em um motel, e pensar em quantos orgasmos e posições do kamasutra aquela cama já viu.
As pessoas vão e vem, ficam ou não.
No quê pensam? O que querem da vida?
O que as motiva?
A quem amam? Odeiam alguém?
O que já fizeram de errado?
São felizes?
E é assim, que aos poucos, vou esquecendo de olhar para mim.
Não sei e nem saberei se o homem de preto, matou alguém.
Nem se a mulher bonita, iria ver o amante.
Muito menos saberei os orgasmos que teve naquela cama.
Talvez um dia eu mate alguém.
Encontre meu amante.
E seremos mais um, entre os vários casais, em uma cama de motel.
Planejando um modo mais atraente de viver, de fazer acontecer as coisas.
Ou sentando em um canto qualquer, observando.
Esperando que alguém viva ou faça, aquilo que jamais farei ou terei coragem de admitir querer fazê-lo.
E caminhando pela rotina do hoje, em seus próprios passos, todos presos como reféns em cativeiros invisíveis.
sábado, 16 de outubro de 2010
Sempre seu sempre meu, somente nosso...
Meu amor tem um sorriso que é somente dele:
Sincero quando quer me fazer apaixonar, e malicioso quando estamos a sós.
O sorriso é dele, mas ele sorri só para mim.
Meu amor tem um abraço que é só dele:
Gostoso, quente, com cheiro de roupa limpa e colônia.
Já provei vários abraços, mas é só o dele que é assim.
Meu amor tem um olhar, que é só dele:
Aquele olhar que desvenda meus segredos e me envolve por completo.
Gosto de ouvi-lo falar, mas as palavras que mais gosto, são expressas pelo olhar dele.
Meu amor tem uma voz, que é só dele:
Calma e segura, pra me equilibrar. Sedutora quando quer me enlouquecer.
Meu amor tem um beijo, que é só dele.
De todos os outros que provei, são vaga lembrança perto do que experimento agora.
Meu amor tem mãos que são só dele:
Ternas e ásperas, bem desenhadas, mas nem de longe são perfeitas.
Meu amor, tem um nome, um jeito de ser que são somente dele.
Sentimentos e idéias, e um modo de ver a vida.
Meu amor ainda não encontrei, seu nome nem mesmo sei, mas sei como será amá-lo, e como reconhecer.
Meu amor terá um detalhe, que é será somente dele:
Ele será meu e de mais ninguém.
Eu serei dele e de mais ninguém.
E esse amor será nosso, e de mais ninguém.
E dois, nunca vai ser um número tão perfeito.
quinta-feira, 14 de outubro de 2010
Sons
“Gosto quando te calas porque estás como ausente, e me ouves de longe, minha voz não te toca. Parece que os olhos tivessem de ti voado e parece que um beijo te fechara a boca.”
Gosto muito desse poema de Pablo Neruda. Singelo e bonito.
E o titulo é perfeito, “Gosto Quando Te Calas” (ou para os entendidos no idioma: “Me Gusta Cuando Callas”) já que fala de algo que gosto muito: os sons.
De todos os tipos, que todas as pessoas fazem, em todo lugar e a qualquer momento.
A forma como os sons nos transmite as emoções, os momentos...
Se fecharmos os olhos, na total ausência da visão, e aguçarmos o sentido da audição, perceberemos como é interessante o som de tudo ao nosso redor. Como ele define a forma com a qual sua vida vem sendo levada. Sons de teclado batendo, impressoras, telefone tocando sem parar, pessoas falando...o som da vida de 90% das pessoas, presas em escritórios, reféns do capitalismo e escravos da rotina.
Um bebê que chora quando tem fome, uma torneira pingando sem parar, o som da água quente de uma ducha, os carros passando, buzinas, microondas avisando que o miojo ficou pronto, café sendo coado, um galo cantando ao longe, um copo quebrado, um pigarro para disfarçar, um salto alto ecoando no piso da sala, a TV anunciando horário político, o celular recebendo um SMS, alguém que bate na porta, um beijo estalado, talheres raspando no prato, chuva no final da tarde, onda do mar na tempestade, raios e trovões, uma guitarra desafinada, grilo na noite, cigarra cantante, o miado do gato preto, pés descalços correndo, uma janela sendo aberta, lixa passando na unha, pipoca na panela, CD arranhado, caneta riscando o papel, lápis-de-cor colorindo um desenho, corpo cansado caindo na cama, gemido de prazer, língua enroscada, sussurro ao pé do ouvido, cama rangendo, um cigarro sendo aceso e um suspiro de satisfação.
E de repente, tudo cessa, e surge o som mais significativo de todos. Aquele que diz tudo sem emitir palavra alguma: o silêncio.
O que mais responde uma pergunta, o que mais acalma um ataque de nervos, o que mais machuca, e o único que te cala em toda a sua força de expressão, o vazio, o nada, o eco do silêncio.
O silêncio e o tempo são faces do mesmo espelho: é somente na presença deles que se pode curar uma ferida, e é também na ausência deles que toda dor é intensificada.
Feche os olhos e preste atenção, que som sua vida faz?
“Gosto de ti quando calas e estás como distante. E estás como que te queixando, borboleta em arrulho. E me ouves de longe, e a minha voz não te alcança: deixa-me que me cale com o silêncio teu.”
sexta-feira, 1 de outubro de 2010
Grilo da Sorte
Quando eu criança, minha mãe me ensinou que ver um grilo verde, era sinal de sorte pelo resto do dia.
Como boa garota que sou, sempre tive pavor desse inseto, que além de verde, cor que detesto, era estranho e fazia um barulho mais estranho ainda.
Mas estava lembrando dessa regrinha infantil, porque encontrei um grilo hoje de manhã. E ainda era exatamente como eu lembrava: feio, verde e estranho. Mas ainda assim, raro de certa forma, já que nas ruas pavimentadas a fauna não é tão evidente aos olhos.
A situação foi bem interessante na verdade: estava a caminho do trabalho, e vi o grilo no estacionamento. Parcialmente esmagado, metade dele ainda lutando para se mover daquela agonia.
Estava atrasada, mas confesso que perdi bons minutos observando aquela cena, os olhos fixados no inseto que se revolvia espedaçado no que parecia ser uma dor lancinante.
Mas, e daí? Era um grilo, era verde, e eu teria sorte pelo resto do dia.
Ao menos esperava que assim o fosse, já que para um ser mítico portador de sorte, o destino fora cruel com ele. Ou talvez ele só dê sorte, mas seja desprovido dela.
Enfim, eu teria sorte. Pelo menos, assim falou minha mãe há uns 20 anos atrás, e mães sempre (ou quase) tem razão.
"Quando podemos ser felizes às custas da infelicidade alheia, de que importa todo o resto, certo?" ponderei rapidamente.
Com este pensamento em mente, fui enfrentar meu dia “sortudo”.
Estava mais egoísta que o habitual naquele dia, confesso.
E o dia começou: problemas, reuniões exaustivas, planilhas e relatórios, mais problemas, café ruim, banheiro inundado, refeitório deprimente, mais café ruim e gastrite à tarde.
E foi apenas um dia.
Que raios de sorte foi essa? Grilo mentiroso, falso.
Foi um dia igual à qualquer outro.
E esse foi o problema. É sempre esse o problema.
O dia de ontem constantemente se repetiria, se eu fizesse hoje as mesmas coisas de ontem, e assim será também, o dia de amanhã. A sorte deve ser constantemente trabalhada, pois de uma hora para outra, ela muda, num piscar de olhos.
Em quantos momentos ao longo de nossa vida, não encontramos outros “grilos verdes”, e baseamos nossa sorte neles? Era tão mais fácil...
Fazer pessoas de escada para uma vida, uma carreira, um sucesso. E justificar, o que é mais patético, nosso infortúnio quando os fins não justificaram os meios.
Ah Maquiavel...
Fazemos cada vez mais isso e receio, não iremos parar tão cedo. Ver nas pessoas, oportunidades, nos amigos, vantagens. E por a culpa em outro, afinal a culpa é nossa e colocamos ela em quem quisermos. Até em um grilo, verde. Verde!
Há quem passe a vida, procurando um grilo da sorte, um pé de coelho, um trevo de quatro folhas. Um amuleto ordinário qualquer.
Deve ser uma equação lógica que diga que sorte é invariavelmente mais fácil de ser encontrada do que lutar contra o azar. E de fato é.
Valeria à pena? Acho que sim, pensando friamente à curto prazo.
Duraria? Acho que não, pensando melhor à longo prazo.
E esperança é algo que por vezes, odeio tanto quanto a cor verde.
Mas continuemos, a usar, a “mesquinhar mesquinharias” e no final do dia, do ano, da vida, estaremos tal qual aquele que um dia nos propiciou (ou não) tal sorte:
Parcialmente esmagados, metade de nós ainda lutando para se mover dessa agonia.
sábado, 25 de setembro de 2010
Areias do tempo
Acho engraçado quando minhas amigas se apaixonam à cada semana por um cara diferente.
É como se toda vez a esperança que havia sido perdida na semana anterior, digo, no relacionamento anterior, fosse renovada e elas já estavam prontas para outra. Secretamente as invejo. De uma forma não prejudicial, claro, mas as admiro imensamente por essa capacidade, essa cicatrização amorosa rápida.
Eu por outro lado,ainda tenho algumas marcas, e cicatrizes que ainda não fecharam. Nem com todos os pontos, aos quais já me submeti. Antibióticos, anti-tetânica, deprê com chocolate...nada. Nem brigadeiro na panela ajudou nisso.
Havia concluído então que eu era do tipo que não se apaixonava fácil.
Que para me conquistar demorava muito, que eu não me apegava facilmente. E tenho repetido isto para mim mesma, desde então. Acredito que todo este tempo tenho me enganado por não me apaixonar toda semana por uma pessoa diferente, como a maioria de minha amigas. Eu me sentia excluída do mundo das volúveis, que penso, se divertem muito mais, já que sofrem muito menos.
Uma vez, na tentativa de tentar consolar uma destas amigas, desiludida do amor pela 4ª vez naquela semana, foi que ouvi a seguinte frase: “você fala isso porque não sabe o que é amor, não se apaixona”.
Pensando nisso, sempre fico pensando naquilo que ouço e que me magoa, me peguei lembrando de minhas paixões. Do jardim de infância, do ginásio, do colegial, da faculdade...
E descobri que não sou diferente: me apaixonava facilmente sim.
Mas a diferença entre uma paixão e outra, é tempo que se leva para esquecer.
Esquecer um sorriso.
Esquecer um olhar.
Esquecer um abraço ou um beijo.
Esquecer um ser humano.
Esquecer uma qualidade que te surpreende. Esquecer um defeito irritante.
Todos se apaixonam facilmente. Todos os dias.
O problema é que alguns levam dias, semanas para esquecer.
Outros levavam anos, e nunca esqueciam por completo.
Fiquei feliz ao constatar isto. Feliz por me sentir incluída no círculo vicioso da paixão. E triste ao mesmo tempo, por saber que acalento minhas paixões durante muito tempo.
Enfim: quem pode dizer o tempo certo para esquecer? Ou para amar?
Mas, ainda me restava uma pergunta que não queria calar:
E para o sofrimento, qual a dose certa?
Tudo que eu sabia até agora, é que era opcional.
Por uma semana, um mês, era normal.
E anos? Opção própria.
Seria eu uma masoquista? Me “auto flagelava” com sofrimento?
Levo tanto tempo para esquecer...
Não.
Levo tempo para me permitir amar novamente como amei um dia.
sexta-feira, 17 de setembro de 2010
Para Casar x Para Causar
Garotas boas vão para o céu...
E as más, vão para qualquer lugar.
Verdade ou mentira hã?
Garotinhas boas vão para o cinema, para o jantar, recebem flores, chocolates, promessas que serão cumpridas, são apresentadas para a futura sogra, e aparecem na coluna social do jornal de domingo.
Garotinhas más, se vão para o cinema é porque o lugar é escuro o suficiente para uns amassos, se saem para jantar é porque logo depois tem motel, caso recebam flores é para garantir uma segunda dose, só comem chocolate pra esquecer de mais uma decepção, se houverem promessas, essas serão feitas sob falso juramento com segundas intenções, e bem, não são exatamente o tipo que tem sogras. Coluna social então? Jamais. Não lê jornal, acessa o Terra todo dia de manhã somente.
Garotinhas boas, saem aos montes, todas de saia de cintura alta, blusinha branca, e louboutin. Safada comportada é a nova moda.
Garotinhas más, saem sozinhas se preciso, de jeans ou legging, camiseta larguinha e bota sem salto. Não segue moda, a não ser a sua.
As boas, sabem sorrir com doçura, falar mansamente, e fazer charme, se dizendo difícil apenas para não dar o braço à torcer para a sua vontade. Causam boa impressão.
As más, sorriem com vontade e malícia, falam, gritam, brigam por suas razões, e não são difíceis quando o assunto é satisfazer ao desejo delas. E a primeira impressão que você tem delas, é de total espanto.
As boas são aquelas garotas escolhidas para serem presidentes de turma, para ter suas camisetas assinadas por toda a sala no último dia de aula, para andar de mãos dadas pelo passeio da escola, para apresentar aos amigos no churrasco da empresa, e para dizer aos pais: “é ela”.
As más, são aquelas garotas que na escola passaram despercebidas, alheia em seus pensamentos, não gostavam de participar de votação nenhuma, sempre com fones no ouvido, porque ouvir música era melhor do que ouvir às pessoas, suas camisetas só eram assinadas pelas duas ou três únicas amigas que tinha, nunca namorou no colégio, nas festas da empresa é admirada por muitos e possuída por nenhum, e por fim, você jamais dirá aos seu pais sobre ela, pelas mesmas razões pelas quais não falamos sobre religião e futebol. Não há o que discutir sobre a mulher tida como “má”.
Sobre as “boas” sim, há como encontrarmos um jeito de defini-las: falsas por conveniência.
Provavelmente em 10 anos, ela irá trair o marido com o melhor amigo ou o sócio da empresa, mãe descuidada e relapsa com os filhos, secretamente bebe uma taça ou duas nos intervalos do jantar, viciada em remédios para insônia bem como em produtos para beleza, pois a aparência sempre será aquilo que de mais valor as boas pessoas prezam, pois é assim que enganam os demais, é no que é visível aos olhos, que os detalhes passam despercebidos e o caráter não é julgado.
Em 10 anos, as más estarão atingindo cargos cobiçados na carreira, orgasmos aos finais de semana, mimos às quartas-feiras, sem problemas com bebida, já que depois de tantos porres aprendeu a se controlar, viciada apenas na boa vida, e pouco se importa com Renew ou Chronos, pois sua pele é bem tratada pelos anos, pois ela se aceita como é e sempre foi:
Alguém que diz a verdade, e se faz verdadeira.
Pagou os preços por essa opção, pois descobriu ao longo dos anos, que em alguns casos não é você quem não está preparada para as pessoas á sua volta, e sim elas que jamais estarão preparadas para você e por isso te magoam dia após dia, esperando que você faça parte do grupo liderado pela maioria, que segue à risca:
“A maldade está para a bondade assim com a verdade está para a dor: machuca e por essas e outras, constantemente, mentimos.”
quarta-feira, 19 de maio de 2010
Tragédia Grega
Voltando de outra sessão de cinema, na qual fui comigo mesma e um balde de pipoca doce, descubro mais um dos segredos da humanidade moderna: O grande vilão dos dias de hoje, são os filmes de romance/comédia romântica. Definitivamente é isso, só poder ser. Tem que ser!
Pra começar...
Ela: linda, corpão, sem celulite ou rugas, divertida e jamais de TPM (ou se tiver, será perfeitamente compreensível pelo mocinho) e o melhor; assim como a Barbie já vem maquiada e de sorriso Colgate.
Ele: lindo, corpão, rico (afinal, quem amaria à um pobre, neste mundo cheio de impostos?) compreensivo, divertido e romântico como nunca se viu.
Pra terminar...
E é claro, estas duas distintas espécies vão se encontrar, ali, na esquina, no café. Porque obviamente o perfeito atrai o perfeito e irão procriar outros perfeitos seres, com cabelo bom e pele limpa. Básico, rápido, simples e indolor. Tipo depilação com cera quente né?
E uma sirena soa: “errado”. Sem sombra de dúvidas, errado.
O que há de errado, e ao mesmo tempo certo, nestes filmes hollywodianos (além do botox da Sharon Stone) é que as pessoas não são reais, elas interpretam papéis. Insípidos papéis que, aos olhos do solteiro, atrapalham na distinção do que é real e plausível e do que é pretensioso e impossível.
Na vida real, podemos usar o sutiã mais bonito e caro que pudermos encontrar, ele nunca será reparado quando formos para o motel com aquele babaca da balada. É só mais uma peça bonita, pra enfeitar o chão do quarto. Quarto este, que tem um valor pela hora! E você ainda vai ter que ficar olhando pra si mesma pelo espelho redondo do teto, de pernas abertas com cara de tédio, procurando o cigarro. Você não foi Ingrid Bergmann e ele tampouco, Humphrey Bogart. Foi Tila Tequila e Big Dick, em Hotel Room Service, cena 4, tomada 2.
E temos que nos satisfazer com isso, já que noite após noite, todo fim de semana, quando não tem nada melhor pra se fazer, é nesse número da agenda do celular que você cai. E disca sem dó, porque está se convencendo ao poucos, que de longe, você lembra um pouco alguma atriz pornô. Vivemos todos em um grande filme pornô mal dirigido, por um punheteiro qualquer, sem nome nem sobrenome.
Há uma certa tristeza em ver como as pessoas perdem a habilidade de jogar e interpretar papéis, criar fantasias e mascarar essa realidade patética na qual vivemos. Ou ao menos, na qual eu vivo, não posso falar sobre você.
O ponto é que, quero morangos e champanhe.
E por favor! Elogie a droga do sutiã preto rendado!
quinta-feira, 13 de maio de 2010
Jogos
- Posso te ligar hoje, ou daqui uns meses.
- Por quê?
- Porque você me tem fácil demais.
- E você quer fazer joguinhos?
- Claro, não gosta?
- Gosto até demais, mas quando eu sou o gato.
- Não consegue ser perseguida?
- Predadores não podem ser presos.
- Você seria saborosa em todos os papéis.
- Sob o seu ponto de vista até pode ser.
- E sob o seu ponto de vista?
- Acho que você fala demais.
- Prefere ações?
- Você não sabe agir do modo que gosto.
- E por quê você ainda fala comigo?
- Gosto do seu físico.
(...)
- Escute, que é que você diria se eu lhe dissesse que estou apaixonado?
- Diria que você não sabe na encrenca em que está se metendo.
- A paixão me deixou cego.
- Você enxerga bem, tanto é que não tira os olhos das minhas pernas.
- Você é tão narcisista.
- Obrigada.
- E só olho pras suas pernas ao final de cada capítulo.
- Este livro tem capítulos extremamente curtos.
- Que é que você quer que eu faça?
- Admita.
- Isso é fácil. Estou apaixonado. Quem não admite é você.
- Você admitindo já está bom.
- Você é uma cretina.
- E você está excitado. Qual de nós dois será o pior?
- Você com certeza.
(...)
- Beijo de despedida?
- Assim, como namoro de portão?
(...)
Um beijo longo, lento, daqueles que você lembra de todos os detalhes.
Principalmente dela agarrando a manga da sua jaqueta.
Não seu braço.
Mas a manga da jaqueta.
quarta-feira, 21 de abril de 2010
Padrões
Greta Garbo, Marilyn Monroe, Brooke Shields, Angelina Jolie, Sharon Stone ou
Gisele Bündchen.
Num primeiro momento, o que elas têm em comum?
Nada.
E se for mencionado o termo: "padrões de beleza?"
O que elas têm em comum agora?
Tudo.
Cada uma em sua forma de se mostrar ao mundo, ditou uma moda.
Uma época.
Greta Garbo e sua sensualidade depressiva.
Marilyn Monroe e a voluptosidade sacana.
Brooke Shields, que nos anos 80 junto com a "Lagoa Azul" fez muito marmanjo pensar seriamente
em se mudar pra uma ilha.
Sharon Stone e o jeito fatal aliado com sua cruzada de pernas mais famosa do cinema.
Angelina Jolie, me nego a comentar de você.
E Gisele fala sério, você é nariguda.
Surge uma mulher, ou um cara, que fazem um filme outro, se preocupam com o meio ambiente e as crianças famintas
da Etiópia. Tá aí. Formou um padrão.
E uma febre.
Todo mundo querendo aquele corte de cabelo, aquela boca carnuda, que mais parece uma "picanha em cada beiço."
Buscando ser perfeito, e fingir ser o que não é.
Muito bom admirar, ver a beleza gritante que os estereótipos tem.
Mas querer se parecer?
Imitar?
Daí surge o silicone na boca.
Duas costelas retiradas com intuito de afinar a cinturinha.
E a anorexia? É bonito ser um puro osso.
Vem a depressão e o esquecimento.
Depressão porque você nunca será igual.
E esquecimento, porque esquecemos que beleza não tem padrão.
Por isso, vemos um cara magrelo namorando uma gordinha.
As dentucinhas sorrindo, e as vesgas usando os óculos da última moda.
Tentando melhorar, sem seguir um padrão, exceto o seu próprio.
Que permite comer um Big Tasty, ter a boca fininha e uma cruzada de pernas meio desajeitada.
Não existe perfeição.
Somente "supostos padrões de beleza".
E seguidores.
Quando na real, ficamos mais "bonitos" nos dias em que estamos mais "feios".
Dependendo do ponto de vista de quem vê.
"She looks like a model. Except she's got a little more ASS."
domingo, 18 de abril de 2010
Francamente falando?
- O que você quer da vida?
- Acho que seria mais correto perguntar o que a vida quer de mim.
- Isso não sei responder. Só sei o que eu quero de você.
- O quê?
- Que você me diga o que quer. De uma vez por todas.
- Francamente falando?
- Por favor.
- Não preciso amar você.
- Não?
- Não. Preciso é não enjoar de você.
- Você enjoa das pessoas facilmente não é?
- Sim. Com mais freqüência do gostaria.
E era verdade.
Enjoava e enojava-se das pessoas. De ver como elas podiam ser extremamente irritantes, sem nada para oferecer, a não serem críticas e reprovações. Cobranças e ciúmes. Nos últimos tempos, evitava comentar com os outros, suas opiniões, seus pensamentos. Sentia-se murchar lentamente. Porque nunca poderia fazer e dizer tudo o que realmente queria ou pensava. Estava cansada de ver os olhares de incredulidade dos outros sobre ela. Como se fosse um inseto asqueroso sob um microscópio.
“Mas não devemos ligar para o que os outros pensam a nosso respeito.”
Ok.
Me diga então um modo de ignorar tudo, sem viver em uma ilha.
Precisamos conviver em sociedade. Sendo hipócritas com os outros e com nós mesmos.
É uma lei de sobrevivência.
O que se precisa hoje em dia não é de “eu te amo”.
E sim de: “eu não enjôo de você em 3 minutos”.
Quanto mais conheço as pessoas, mais AMO OS ANIMAIS.
sexta-feira, 2 de abril de 2010
E viveram felizes para sempre...
...fim.
Final feliz.
É isso? Todo mundo feliz? Fácil assim?
Pra começar:
Como um final pode ser feliz?
Isso deve ter sido criado por algum contador de história infantil, dotado de muita ironia.
“E o príncipe viveu feliz para sempre com a princesa”.
Aposto que nessa hora, ele (pode ser o Hans Christian Andersen) estava rindo com o canto da boca, em afetado sarcasmo, sabendo interiormente de toda a realidade.
Nunca existiu um “para sempre”. Afinal, ninguém nunca mandou notícias do “para sempre”: “Olá, estou aqui no reino de Para Sempre, e mando um abraço aos amigos e um beijo para as amigas”.
Príncipes e princesas se casam por interesses comuns, não por amor.
Amor para a vida toda não existe. Alguém já recebeu cartas do além, de algum apaixonado, dizendo: “Meu nome é João cara de bobão, morri, e estou aqui mandando um recado: mesmo depois de morto, ainda amo Maria cara de pia”.
Amor de momento sim. Existe, e tem por aí, aos montes.
Esse sim pode ser comprovado, uma vez que o orkut e fotolog não nos deixa mentir não é mesmo? Quem nunca viu por aí, um casal que acabou de ficar junto, jurando eternidade?
Benzinho, eternidade é muito tempo.
Empolgações, impulsividade são brindes que estão inclusos no pacote: “Adquira já o seu amor pra toda vida. Vem do nada, arrebata e te faz imensamente feliz”.
Observação: não nos responsabilizamos se o produto acabar em alguns dias, semanas ou meses. No caso de durar anos, favor comunicar à loja, para que possamos comemorar, porque será um caso a parte.
E por favor, não pense que não acredito no amor.
Acredito sim.
Não acredito é na banalização dele.
Nessa imensa bagunça sentimental que vivemos.
Onde todos se amam, todos se querem.
E todos, vivemos felizes para sempre.
Dá um tempo vai.
Ou faz o seguinte: pega o meu telefone, e me liga do além quando você estiver morto já.
Ou deixa um scrap, avisando que lá no além, você ainda ama fulana ou ciclano.
Vou ter imenso prazer, em morder a minha língua.
E você estará me ajudando duplamente, me provando a existência de duas coisas nas quais não acredito: vida após a morte, e amor eterno.
Pra mim, só existe no filme do “Ghost – Do outro lado da vida”.
E ainda assim, a cena da argila é a mais interessante.
- Te amo para sempre.
- Se você amar por hoje, já ta mais do que bom.
Ser utópico é fácil. Ser realista, é que são elas.
quinta-feira, 25 de março de 2010
Dia de família
Hoje é dia de família.
Não use a maquiagem pesada dos olhos.
Mantenha suas mãos e respectivamente suas unhas pintadas de vermelho longe dos olhares.
Não conte piadas pesadas, não conteste a religiosidade da sua avó.
Não discuta sobre alimentos trans com sua tia hipocondríaca.
Não sonhe em falar que sua priminha de 3 anos não se parece nem com sua tia de 40 ou com seu tio de 60. Você sabe que foi inseminação artificial, mas finja que ela é a cópia perfeita do fracassado casamento deles.
Segure o riso na hora da oração agradecendo pelo almoço e pela fartura.
Sua avó acredita que foi Deus quem deu a macarronada de domingo. Vai ver esqueceram de contar que é o salário do seu pai que pagou. Coitadinha!
Sua tia vai falar sobre doença. Finja que se preocupa. Algum dia ela vai morrer e você e seu irmãozinho os afilhados diretos dela, logo, terão direito à herança, afinal ela é uma árvore seca que não deu belos frutos.
Sua priminha quer entrar no seu quarto e brincar de comer seu batom novo.
Na frente dos outros, diga que ela é uma gracinha e que você ama de paixão o sorriso sem dentes dela. Quando ninguém estiver olhando, ameace de esmagar os dedos dela com sua bota bico fino e arrancar as unhas dela uma por uma. Lentamente.
Não escute suas músicas. Não comente dos seus amigos.
Diga que você nunca beijou na boca, e que sexo é nojento, e seu maior sonho é ser uma freira que reza o dia inteiro.
Hora do almoço.
Coma verduras, você é saudável. Beba refrigerante. Deixe pra roubar a cerveja do seu pai de noite. Disfarce o tédio. Concorde. Sorria. Compartilhe interesse pela história de amor de seus avós. Simule lágrimas nos olhos quando pela centésima vez sua avó contar como foram difíceis os anos em que seu avô ficou anos fora de casa trabalhando. Sacana do jeito que ele era você sabe que ele se divertia com as vagabundas, mas sua avó prefere te fazer acreditar que ele passou anos somente trabalhando e se sentia feliz ao lembrar de seu lar.
Frases como:
"que interessante", "jura?", "imagine tia, bondade sua", "claro vovó, está na bíblia", "sim titio, estudo todos os dias". São altamente permitidas, como um manual de sobrevivência na selva familiar.
As mesmas pessoas vazias, as mesmas conversas sem conteúdo, você está em um abismo caindo lentamente, você grita por socorro, mas ninguém te ouve, Ninguém que ligasse. Nem que ao menos, notasse.
Alguém passa a salada?
Isso é chicória com espinafre?
Puxa vida, que delícia!
terça-feira, 23 de março de 2010
Quem procura...
Eu sempre soube que nunca tivemos nada de sério. Assim, pronunciado, declarado aos quatro ventos.
Mas até aí tudo bem. Não ter algo de sério perante os outros, não me impede de sentir que é sério para mim.
Movida por esse pensamento encorajador, que na época pareceu ser a maior verdade de todos os tempos desde a gravidade, resolvo me abster de pensar duas vezes antes de fazer alguma coisa, e decidi que iria surpreender você naquele dia: tinha conseguido na noite anterior, fazer uma cópia da sua chave.
E como um ladrão que se esgueira para roubar, assim eu queria que o fosse.
Roubaria você de vez, para mim.
A sempre racional, centrada, que nunca se abalava, seria diferente naquele dia.
Ao longo do caminho, pensava se alguém no mundo, amaria tanto à outro quanto eu amava você.
Chego na sua casa, abro a porta sorrateiramente, e entro no hall, seguindo direto para o seu quarto, onde eu sabia, tinha seu cheiro.
"Eu não deveria estar aqui, sem permissão".
E enquanto tiro a roupa, e coloco seu robe, encontro sua colônia e me perco em tudo aquilo que me lembra de você, seus cd's, as gavetas que reviro, e como um réu primário busco minha defesa perguntando:
"Você me perdoaria, amor, se eu dançasse no seu chuveiro, se eu deitasse na sua cama? Se eu ficasse a tarde inteira?"
Me permito queimar o seu incenso, e quando saio do banho, largada sobre sua escrivaninha, a carta que mudaria para sempre nossa vida:
"Oi, amor. Eu te amo tanto, amor. Encontre-me à meia-noite."
Uma caligrafia bonita, bem desenhada.
Contrastando com a minha: torta e mal feita.
A sua colônia sufocava, seus cd's arranhavam as músicas e seu incenso me enjoava.
Mas era a minha vista embaçada que me perturbava mais. Eram meus pés que tinham perdido o chão que me incomodava.
E finalmente, era ter amado demais que me fez sucumbir às lágrimas e cair no chão.
Nunca mais amei ninguém.
Mas espero que sinceramente você ame e seja amado.
Nem ódio consigo sentir mais.
Só consigo perguntar, todos os dias:
"Então você me perdoa, amor, se eu solucei no seu chuveiro? Se deitei na sua cama e chorei a tarde inteira?"
sábado, 20 de março de 2010
Então volta, vem viver outra vez ao meu lado...
Nos últimos tempos vinha sofrendo desse mal.
Não podia dormir à noite, e de dia tão pouco: a claridade incomodava e o calor também.
Acordava no meio da madrugada, presa nos lençóis, o corpo em total alerta, e sentia sempre, o coração pulsar na garganta.
Transbordando em ansiedade e eletricidade, resolvia escutar música, ou ler um livro.
Andava pela casa, no escuro, como um gato preto noturno, daqueles que você só consegue enxergar os olhos verdes na escuridão, dela só podia ver o caos.
O caos em que a mente se encontrava, o corpo que não acalmava com nada, e os ecos fragmentados de conversas nos ouvidos.
- Como você é linda...
- Sou louco por você...
- Seu corpo encaixa tão perfeito no meu...
- É só com você que vejo estrelas...
E era por isso que estranhava a cama:
Era vazia demais, faltava uma forma humana nela.
E o calor do braço que ela tanto tinha se acostumado a ter em volta da cintura dela na hora de dormir.
domingo, 14 de março de 2010
Flores, chocolates e promessas que ninguém consegue cumprir
O dia amanheceu cinzento hoje.
Frio e cinza.
Ao menos podemos pensar que a assim como tempo, a vida não precisa ser sempre preto e branco, ver as tonalidades de cinza de vez em quando é necessário.
Em meio aos tons de cinza, a rua vazia e pessoas que passam sen olhar nos olhos umas das outras, uma árvore: na beira da calçada, frondosa, florescendo em desafio ao progresso da cidade. Flores brancas zombando do dia cinzento e sem graça.
Flores...perfumes...toda a beleza exaltada e imperiosa, olhando de cima quem passava pela rua àquela hora da manhã.
É um tanto curioso perceber que podemos classificar pessoas e seus relacionamentos assim também: tudo começam com flores e seus perfumes. E promessas que ninguém pretendo cumprir. Você realça toda a sua beleza com as últimas novidades em cosméticos milagrosos. E promessas que não pretende cumprir. E também fica imperiosa se achando por cima de toda situação. E de todas as promessas que não pretende cumprir.
O tempo passa.
As flores murcham e caem todas na calçada.
A árvore fica seca, e espera pelas próximas estações pra florescer de novo. Isso se ela não tiver ficado seca por dentro sem um resquício de seiva que a faça florescer a cada nova temporada. E as mesmas flores que antes chamavam a atenção, estão todas caídas, sendo pisadas por quem passa naquela calçada, àquela hora da manhã, naquele dia cinzento e sem graça.
O tempo passa.
A beleza e o relacionamento murcham. E você joga todas as roupas da pessoa na calçada. Chora uma noite toda até ficar seca. E esperar pela próxima estação. A não ser que você tenha ficado seca por dentro também, e finja gostar mais da vida do que realmente gosta. E todo o sentimento que as pessoas valorizavam, não possuem a mesma sorte das flores que agora estão caídas no chão: estes ficaram perdidos no tempo, mas ainda assim, são pisoteados também. Por quem passar pela sua vida, àquela hora da manhã, naquele dia cinzento e sem graça.
E todas as promessas que NINGUÉM pretende cumprir.
domingo, 7 de março de 2010
Vício
Acho que essa palavra define Vida.
Para os alcoólatras, tem o álcool.
Para dependentes químicos, as drogas.
Para fumantes, o cigarro.
Os jogadores compulsivos, o próprio jogo.
Esses em especial, são os condenados, porque optaram por vícios supostamente condenados pela sociedade e pela ciência. Mas cada um tem o livre arbítrio de escolher.
Bom ou mau, certo ou errado. São conceitos pessoais e não universais.
Condenamos tudo aquilo que não podemos compreender facilmente.
Mas o vício também faz parte da sua vida.
É. Da sua.
Tão certinha, tão bonitinha, tão perfeitinha.
Você é viciado também meu bem.
Um círculo vicioso: droga-prazer-culpa-falta de prazer-droga-prazer.
O ministério da saúde adverte: você é viciado na sua vida.
Se não está viciado, você não vive, não compreende o vício de outra pessoa e é apenas coadjuvante e não protagonista.
Acho o conceito de 8 ou 80 muito válido.
Ou você sente tudo, ou não sente nada.
Viver no meio termo não dá.
É tedioso e desgastante.
Uma mãe vicia nos filhos.
Um músico viciou na profissão.
Um namorado viciou na namorada.
O pai de família viciou em fazer dívidas.
Sua amiga viciou na vida dos outros.
Seu avô viciou nas balinhas de cereja.
Você viciou nos seus amigos, na balada do sábado e na dança no meio da pista.
Para o desenvolvimento da dependência é necessário que se recorra aos efeitos prazerosos da droga. Esse efeito prazeroso chama-se Reforço Positivo.
Quando você não tem, você anseia por mais e mais.
Por isso:
A mãe fica preocupada se o filho não está em casa.
O músico precisa de inspiração, senão não pode fazer o que ama.
O namorado se desesperou porque a namorada foi viajar e ele não vai ver ela.
O pai de família descobriu que os juros são altos demais.
Sua amiga está entediada porque não tem fofoca pra fazer.
Seu avô tem diabetes.
Seus amigos estão namorando enquanto você está solteiro, a balada do fim de semana não vai rolar, e a música que você gostava não toca mais nas pistas.
O que você vai fazer?
Vai procurar outro vício.
Que estimule e te dê a mesma sensação de prazer de antes.
Porque você não pode viver uma vida sem graça.
Sem estar viciado no prazer de viver.
Não condene o cara caído na sarjeta.
Ele viciou em cocaína.
Imagine se você perder o que mais te dá prazer na vida.
Pra onde você vai?
Pro lado do cara que era viciado em cocaína.
Vocês dois tem algo em comum:
Viciaram no prazer.
Em...VIDA.
quinta-feira, 4 de março de 2010
I'm losing my favourite game, and you're losing your mind again?
- Onde estão as minhas chaves?
- Em cima da mesinha de vidro que fica no hall de entrada.
Realmente estavam lá.
Odiava o fato de ser tão descuidada e deixar passar detalhes assim, como esquecer as chaves e não lembrar de onde as tinha colocado. Ainda mais agora, que precisava tanto encontrá-las e ir embora dali. Logo.
- Não sei como sempre esqueço onde coloco as chaves.
- Descuido é uma característica sua. Muito marcante por sinal.
- Defeito de fábrica talvez.
- Inconsciente mesmo. Você não lembra nunca onde põe as chaves, porque nunca quer ir embora.
- Presunção é uma característica sua. Muito marcante por sinal.
- Jogos de palavras?
- Toma lá, dá cá.
(...)
- Sinto falta da sua risada histérica, e o jeito como torce o nariz quando não gosta de alguma coisa.
- Minhas chaves!
- Não está esquecendo de nada?
- O quê?
- Seus brincos. Os preferidos que você sempre usa. Ficaram na mesinha ao lado da cama.
- Ah...
Assim como as chaves que esquecia onde colocava, os brincos também eram um pretexto inconsciente, para voltar e repetir por vezes, a noite passada.
E ele não perdia nada.
Só sabia sorrir diante da confirmação muda:
Make up the bed! I'm coming home!
domingo, 28 de fevereiro de 2010
Tipos Perfeitos
Nem sempre eram os ideais.
Às vezes era mais uma questão de: o tipo errado de cara certo, ou o tipo certo de garota errada.
Tudo que era perfeito, costumava enjoar, pois era fácil ter, e não tinha nada para descobrir da outra pessoa. Ela não era uma incógnita diária, como as cruzadinhas do jornal que você faz todos os dias. Era mais um filme antigo manjado: que você sabia as próximas ações, como rosas no dia do aniversário, e antecipava as frases: “Eu te amo” todo dia de manhã.
Não que todo dia de manhã, fosse ruim ouvir isso. Mas poderia ser à tarde, ou à noite.
Só para você não saber que sua manhã já seria planejada. Cozinhas são planejadas, móveis sob medida, roupas. Relacionamentos não. É sempre bom ter algo para surpreender.
Algumas imperfeições, são atraentes. As manias irritantes principalmente.
Tipo roer unha quando fica nervoso, ou enrolar uma mecha do cabelo quando fica sem resposta.
Por esses motivos, que as pessoas são lembradas. Pela essência dos detalhes que demonstram.
Os tipos perfeitos, são sempre bonitos, inteligentes e sensuais.
Você se vislumbra com isso por algum tempo, mas depois, como brinquedo novo que enjoa e você deixa de lado, acontece o mesmo com os “perfeitinhos e perfeitinhas”. Porque mesmo a maior perfeição, não é nunca, novidade.
Por isso, existem os divórcios. Porque a visão que se tem do casamento, é de certa forma, magia. Dias de encanto, e um casal usando óculos cor-de-rosa e vendo a vida como um mar de rosas. Preferem contar estrelas no céu, do que pedras no caminho. Tem dias, que não se vê uma estrela no céu. Mas vê-se sempre, uma pedra no caminho. A promessa de fidelidade eterna, que o outro só tenha olhos para você, que não veja beleza em outra pessoa. Isso é, além de ilusão, uma mentira.
O amor não é cego. Nossa expectativa em relação à ele que é cega. Tem miopia, hipermetropia e astigmatismo avançado.
- Oi, você poderia ser cego para mim?
- Claro. Você prefere que eu use um tapa olho, ou prefere que eu fure meus olhos?
Esqueci de mencionar: você também não poderia olhar para ninguém.
Direitos iguais não é?
Isso é ser perfeito.
Particularmente, penso ser mais interessante, alguém com olhos ávidos e bem abertos.
Que olhe para outros. E outras.
Para que no final, saiba que melhor que você, não tem.
Isso não é perfeito.
Mas é ideal.
- Amanhã é terça-feira, e eu acho que deveríamos fazer sexo.
- Mas você não é o cara que eu procuro.
- Tudo bem. Você também não é a garota eu procuro.
- Na minha casa ou na sua?
"Maybe right, oh it maybe wrong...Doesn't have to be serious."
terça-feira, 23 de fevereiro de 2010
Aonde está você...me telefona...
Sempre acreditei que não existe essa de "amor verdadeiro é um só pra vida toda".
Pra vida toda é muito tempo.
Sou à favor de "amar verdadeiramente agora".
Até porque não existe felicidade eterna, existem momentos felizes.
Logo, talvez não exista amor eterno, mas amor de momento.
Aí sim! Um momento que valha por uma vida inteira.
Hoje eu me flagrei lembrando de um menino que eu gostei por mais de 3 ou 4 anos.
Isso na 6ª série. Quando eu ainda era uma garota feia e sem graça, não usava maquiagem, usava óculos, não usava roupas ousadas, usava calça e blusas largas.
Vivia lendo dicionário pra aprender palavrões sofisticados pra usar contra os meninos bonitos e idiotas que gostavam de rir de mim nos intervalos.
Esse menino, cujo nome não lembro mais, só lembro que tinha olhos lindos, também era um dos mais bonitos e as meninas cobiçavam ele. Não sei por quê, ele me notou desde o primeiro dia de aula. Sempre me tratou bem, e eu fugia dele. Era estúpida (como é tão típico do meu jeito de ser) e tratava ele mal. E à noite, lembrava sempre dele antes de dormir.
A questão é que nunca beijei ele, e acho que foi o melhor beijo.
Nunca abracei ele, e é um dos abraços que eu queria ganhar quando me sinto sozinha.
Não vejo mais ele deve fazer uns 4 anos já.
Ele deve ter alguém, e essa pessoa tem muita sorte, porque sempre vou pensar que de todos os amores que tive e dos que ainda vou ter, desse nunca vou esquecer.
I’ll stand by you...
Take me in, into your darkest hour...
And I’ll never desert you...
I’ll stand by you .
domingo, 31 de janeiro de 2010
Me diga qual é o seu nome?
Fim-de-semana.
Começam os convites pra sair, as opções surgem, e você se sente inclinado a ceder. E se deixa levar.
Pelos amigos, pelos lugares, e também, por quê não, pelo seu tédio que não te deixa ficar em casa.
Se arruma.
Sabe que por onde passar, vai chamar atenção. Até porque as pessoas só costumam ver o que é aparente aos olhos. Vão olhar você, mas nunca vão enxergar realmente. Acham seus olhos bonitos, mas estão longe de ver o vazio neles. Seu sorriso chama atenção, mas ninguém vê que ele é forçado.
Circula entre as pessoas, se envolve pela música, e deixa o corpo fluir, dançando, e de olhos fechados, como se só houvesse você ali. E assim vai lembrando tantas coisas, e presta atenção nas letras das músicas, e todas acabam tendo um trecho que se encaixa perfeitamente em você. E com as pessoas a sua volta.
E todos conectados pelos corpos embalados ao som da música.
A bebida sobe. E a noção desce.
Ri de tudo, acha tudo legal.
Apesar de que, no dia seguinte, terá dores de cabeça, e vai notar que foi apenas ilusão.
Não existe mais a bebida.
Só a noção de quem você é e de onde está.
E do quão sozinho você é.
Solitário e patético.
E relembrando das pessoas te olhando.
Desejando você, ou até invejando.
Ao invés de inflar o ego, sente pena, e nojo.
Está velho demais para essas coisas, mas tampouco sabe fazer algo diferente do que beber o mesmo drink de sempre, fumar o velho cigarro, e se perder no meio de estranhos.
Onde o maior estranho, talvez seja você.
Porque se engana, dia após dia.
E agora, fitando a si mesmo no espelho, vê todos os traços que passaram despercebidos aos olhos dos outros na noite passada:
Se mentira e fingimento tivessem nome, seria o seu.
quarta-feira, 27 de janeiro de 2010
Chove chuva....chove sem parar...
- O que você tanto olha pela janela?
- A chuva.
- Você gosta?
- Sim...o som....alguns relâmpagos talvez.
- Parece seu estado de espírito algumas vezes.
- É mesmo?
- Sim...por vezes confusa, cheia de rompantes.
- Eu gosto de chuva...de banhos de chuva.
- Também gosto de você...de banhos com você.
- Molhada?
- Sim...
- Por quê?
- Pra deslizar em você. Com você.
(...)
- Ainda está chovendo.
- Ainda continuo com você.
- Por quanto tempo?
- Por quanto você quiser.
- Então será pelo tempo que eu precisar.
- Seria quanto tempo?
- O suficiente...pra você me modificar.
- Você deixaria.
- Certamente que não.
- Então você não precisa de mim.
- Preciso que você tente.
- Moldar você?
- Uhum...você faz isso tão bem com as mãos, por quê seria diferente?
- Porque o corpo você entrega por completo, mas a mente está sempre distante.
(...)
- Parou de chover.
- E você fugiu da afirmação.
- Não...eu consenti ela, me calando.
A janela cheia de gotas d'água, uma gota indo de encontro à outra, naturalmente.
Algumas ficam juntas, outras não, e encontram outras ao longo do vidro embaçado. O que importa é que a cada contato, elas se modificam, não importa o quanto dure ou que chegarão juntas ao final.
Mas serão modificadas.
"Leva um pouco de mim e deixe muito de você."
Listen to the rhythm of the falling rain
Telling me just what a fool I've been
I wish that it would go and let me cry in vain
And let me be alone again
Listen to the falling rain...
sexta-feira, 22 de janeiro de 2010
Hope Faith
Hope Faith era uma garota.
Uns 20 anos talvez.
Tinha por hábito sentar na janela e ficar olhando as estrelas, as nuvens que passavam, e imaginava desenhos no céu, via as pessoas que gostava ilustradas neles e assim via sua vida.
Sua vida passar.
Hope Faith tinha incontáveis defeitos, mas talvez o pior deles fosse:
Sua eterna insatisfação. Nunca tinha o suficiente de coisa alguma, e coisa alguma nunca tinha o suficiente dela.
Tinha bons pais.
Mas estes não eram suficientes.
Tinha bons amigos.
Que também não eram suficientes.
Amava eles. Mas amar também não era suficiente.
Hope Faith queria viajar.
Sempre.
Pra todo lugar. Pra qualquer lugar.
Você já tem 20 anos. Tem que começar a pensar melhor sobre as coisas.
Pedra que muito rola não cria limo.
Você tem que ser responsável Hope Faith.
Juízo.
Nada de vontades e desejos súbitos.
Seja realista. Priorize!
Hope Faith era realista.
Sua realidade era admitir que não queria ter juízo.
Não queria priorizar o que os outros priorizavam.
Não queria se definir. Definir é limitar-se.
Hope Faith precisava mudar de nome.
Esse nome não trazia sorte.
Ela precisava viajar.
Pra longe.
Pra perto.
Mas TINHA que ir.
terça-feira, 19 de janeiro de 2010
O que vejo é sempre o que posso ter?
Eram pessoas modernas, como eu e você.
Tinham orkut, myspace, fotolog, msn, e todas as outras ferramentas virtuais que temos de hoje em dia, para fugir do tête-à-tête, e esconder o que estamos nos tornando cada vez mais: conformados com esta falta de envolvimento e comprometimento entre as pessoas.
E foi assim, que no orkut, encontramos por aí:
O que ele odeia em uma mulher:
- Frescura, futilidade, sem iniciativa...
(e a lista é enorme, já que listar defeitos é fácil)
O que ele ama em uma mulher:
- Beleza, inteligência, charme, inteligência, que faça sexo como uma Afrodite...
(e a lista é igualmente enorme, já que exigir é mais fácil ainda)
E ele conheceu alguém. Que foi lá e clicou em: "adicionar como amigo".
MAS...
O que ela é:
- Fresca, fútil, e nem sempre tem iniciativa (e segue à risca a lista de defeitos que ele odeia em uma mulher)
O que ela oferece:
- Beleza, inteligência, charme, inteligência, e faz sexo como uma Afrodite...
O que ela busca em um homem:
Nada menos do que ele busca em uma mulher (e cá está aquela lista novamente...)
Desprezava quem ela era, "amando" ainda assim, tudo o que ela oferecia .
"Amava" quem ele era, não recebendo nem metade de tudo o que oferecia.
Anulação . Ou comodidade . Já que sozinho, ninguém quer ficar.
E tudo que ambos desejavam , não tinham. Quem queriam não existia.
Tampouco podiam mudar quem eram.
Pode-se dizer ainda que o amor não é egoísta?
Pois as pessoas, certamente o são.
domingo, 17 de janeiro de 2010
O mundo está dividido entre duas categorias:
Os ignorantes e os depressivos.
Os primeiros são os mais felizes, pois choram e sentem em ciclos perfeitos, e a vida lhes é simples.
Os segundos, além do asco pelos primeiros, tem ciclos perfeitos de falta de choro e sentimento. A vida lhes é misteriosa e complicada.
Mas fazem de tudo para se tornarem ignorantes.
sábado, 16 de janeiro de 2010
Don't hate the player - hate the game!
- Fico intrigado quando olho para você. Fico tentando entender o que você esconde por trás desse olhar...
- Por quê esconderia alguma coisa?
- Porque por mais que eu me doe para você, nunca recebo a mesma medida em troca.
- Você dá o que quer...
- Eu não queria ser mais um em sua vida.
- Que pena, "mais um" é tudo o que eu quero no momento.
- O que houve com os outros?
- Foram pelo mesmo caminho que você...
Não revelava nada sobre suas experiências.
Alguns serviam apenas como uma escola.
Outros pra sair da rotina.
Se soubessem como ela pensava, e o que desejava quando olhava dentro de seus olhos, jamais entrariam na vida dela:
Para entrar em um jogo, às vezes, a última coisa da qual você precise saber, sejam as regras.
sexta-feira, 15 de janeiro de 2010
O que mais odeio nos seres humanos...
...é a própria humanidade deles.
A previsibilidade em fazer, falar e até sentir certas coisas.
Me irrita! Me enoja! E me faz ser antipática.
O modo como se aproximam das pessoas para conseguir o que quer, e quando o consegue, descarta a pessoa como se fosse um às de copas que não serve de nada para fechar uma canastra.
Amigo quando convém, inimigo quando menos se espera.
O pior é que não se pode pôr a culpa na "sobrevivência".
Os animais já levam esse crédito.
Irracionalidade? Tampouco.
Os loucos tem essa desculpa.
Cobiça, inveja, falsidade, rancor, vingança, ódio, orgulho, rivalidade. E tantos outros, que dos 7, somaram-se 14 e dos 14, ficaram 21 pecados capitais. Estaduais e mundiais.
Qual a porcentagem de sinceridade em uma amizade?
Da fidelidade de um relacionamento?
Do amor de uma vida?
Os 50% que dão o benefício da dúvida, já nem existem mais.
"Pegue meu coração, ele é seu para que o quebre", como a antiga canção do Jacky James.
Porque no final, resta somente isto: a decepção que as pessoas causam, e os cacos que você tem que colar toda vez.
O problema se agrava quando seu gato preto, tem sua preferência para uma conversa. Ele ou o silêncio do escuro no quarto.
Vou me sentar na beirada do rio e esperar que o corpo dos meus inimigos passem diante de mim, trazidos pela correnteza.
Sabe o mais triste de tudo?
É desprezar tudo que os seres humanos representam, e ser humana também.
Odiar a humanidade neles, porque nela, reside a sua própria.
quinta-feira, 14 de janeiro de 2010
Living Dead Girl
"...procurava por um poema antigo, que um amigo seu havia lhe enviado anos atrás. E como sempre acontece nesses momentos, quanto mais procurava, nada encontrava. Ironia. Pura e simples ironia. Sua fiel escudeira.
Encontrou coisas que nem lembrava mais: fotos antigas com pessoas que não mais faziam parte de sua vida. Poemas e letras de músicas de admiradores, os mesmos que ela menosprezou tempos atrás.
Hoje em dia, sem saber como (ou sabia e não admitia) sentia falta disso.
Estava nostálgica, e a já conhecida depressão ameaçava romper, fazendo-a chorar horas seguidas.
Jamais agradecera ou dera o devido valor à quem gostava dela: apenas ria e pedia por mais.
Fornecia a corda para quem estivesse disposto a se enforcar.
Não entendia como terminara assim: enrolada até o pescoço na própria corda. Atolada em papéis e declarações sem dono.
E a garota que um dia foi inesquecível, deixava de ser interessante aos poucos, se tornando lembrança, passado e não mais presente, tomando a forma de uma coisa . Afinal, não era esse o nome que havia dado à caixa de cartas?
Coisas.
- Você não é aquela garota que eu conheci?
- Não. Pareço com ela não é mesmo?
- Muito!
- Com a diferença de que aquela garota era viva.
I think of all the friends I've known, but when I dial the telephone...nobody's home.
quarta-feira, 13 de janeiro de 2010
A poltrona verde fica!
A mudança havia começado naquele dia.
As escovas de dente estariam juntas, as roupas de ambos no armário do quarto, as chaves penduradas na porta, os chinelos lado à lado, cuecas e calcinhas dividindo o mesmo varal da lavanderia.
Apartamento 304.
Aqui se instalavam, e aqui seriam felizes. Como os casais comuns que em dias comuns, pregam placas comuns em suas portas com a frase comum: "home sweet home".
E para completar essa doçura, começou o aluguel, as compras, a divisão de tarefas e de problemas. Precisavam pintar a sala e os quartos, trocar o antigo carpete, e o banheiro, nem se fala.
Mas tudo era lindo, Até as baratas que vez ou outra surgiam pelo rodapé do "apê" tinham sua posição de prestígio na definição daquele lar. Pequeno. Abafado no verão, frio demais no inverno, longe demais do centro da cidade, fachada antiga e sem graça, mas ainda assim: lar.
E o inferno era só uma sauna .
Ela amava ele, ele amava ela, e juntos, tentavam amar o cotidiano. Esse foi o mais difícil.
Em períodos como esse, ocorre o fenômeno: quando a necessidade entra pela porta, o amor salta pela janela . Será que seria assim com eles?
No começo, as dúvidas eram compensadas com boas noites de sexo e dormir abraçados. No meio eram algumas discussões e irritações. E no fim, bem, esse ninguém quis ver. Mas foi eminente.
Ela engordou, não pintava mais unhas, e começou a queimar o arroz todos os dias.
Ele voltava tarde, dizendo que ficou preso no trabalho, a barba estava sempre por fazer e o futebol de quarta-feira foi esquecido.
Se negavam a ver o fim. Tampouco buscavam uma solução.
Culparam a estatística.
Sendo mais um casal em os outros tantos % que não conseguem viver juntos sob o mesmo teto.
A gota d'água aconteceu na sexta-feira à tarde.
Ele comprou uma poltrona verde para a sala.
Horrorosa e grande demais. Uma "pantufa" gigante, confortável para alguns, rídicula para a maioria.
A briga que aconteceu em seguida, foi porque ela não gostou da poltrona. Odiou na verdade. Cansada de engolir sapos, explodiu, triturou, moeu, fez das emoções um tremendo vatapá apimentado.
Ele então, revidou e disse que odiava as cortinas que a mãe dela havia dado de presente.
Ela chorou. Ele bateu a porta.
Separaram.
Agora, meses depois irão sair novamente.
E ninguém entendia.
Ninguém entendia que, algumas pessoas não combinam com nosso cotidiano. São melhores ocasionalmente. Como tequila que você toma de vez em quando pra quebrar o juízo e a noção.
E separar, é a melhor forma de ficar junto.
A poltrona verde?
Deve ter ido parar em algum antiquário, esperando ser o ponto de partida do próximo casal que queira um novo começo.
terça-feira, 12 de janeiro de 2010
Tóxica
Sou uma pessoa tóxica.
Como uma planta venenosa, uma erva daninha, uma coisa ruim, como um presságio daqueles que arrepiam a nuca.
Mas como as plantas e ervas, e demais coisas ruins que rondam as pessoas, é uma natureza, que você não controla, nem sabe porque está lá. Numa dessas, foi o ar quem trouxe toda esta ruindade.
Entranhando todo o seu ser, te modificando e te deixando diferente de quem costumava ser.
Uma pessoa boa. Do tipo que se quer ter ao lado para contar segredos e compartilhar os sonhos.
As pessoas tóxicas são as mais solitárias do mundo.
Pois sofrem do pior tipo de solidão: a de si mesmo.
Em algum ponto da existência, perderam esta condição, e deixaram de existir.
Seja por medo, por trauma, ou desilusão.
E tudo aquilo de bom que antes havia dentro delas, desaparece como por encanto.
E se torna um veneno.
Um jardim, que ao invés de flores, crescem espinhos.
Mas não culpe estas pessoas, talvez elas nem mesmo sabem dessa natureza auto-destrutiva que possuem.
O mais triste (ou cômico de tudo, dependendo do modo de vista) é que todos buscamos, no final das contas, as mesmas emoções e sentimentos, gotas de entusiasmo e notas de êxtase. E nem todos conseguem.
Alguns, como nós, os tóxicos, nascemos sem a capacidade de relacionamento, de se doar, de amar e saber deixar ser amado.
E quando essas certezas vão se acumulando ao longo do tempo, nos afastamos de tudo e todos aqueles que, ao contrário de nós, esbanjam felicidade e amor. Diferente do egoísmo, a toxina desta tristeza tem raízes mais profundas: vem da frustação das amizades perdidas e dos romances falhos. É um cansaço emocional. Pior do que um coração, é uma alma cansada de viver.
Estar ao lado de alguém, em sua tristeza é fácil, enxugar uma lágrima não é o mais árduo dos trabalhos.
Mas meu amigo, estar ao lado na felicidade, e agüentar aquela enxurrada de sorrisos, quando você por dentro está um lixo, aí sim, é prova de fogo.
Por isso, você se afasta.
Para não infeccionar as pessoas, deixar que se contaminem dia após dia com sua tristeza que parece não ter mais fim.
Conversa pouco, nada mais sabe sobre o que se passa na vida de seus amigos mais próximos, e opta por esquecer por completo da sua.
Entra em uma banheira cheia d’agua, afunda o corpo dolorido, de dores que você nem ao menos sabem de onde vem, e fecha os olhos, e em flashs, vê sua vida passar em 60 segundos.
E em silêncio, pede desculpas.
Por não ser assim, mas por estar assim.
E como quem convida para um churrasco de fim de semana, você convida à todos queiram entranhar e se estranhar.
Não ignorem os avisos.
Eu sou uma pessoa tóxica.
segunda-feira, 11 de janeiro de 2010
Alice
Choveu naquela noite, mas estava quente e abafado. O que dificultava a respiração e facilitava a pouca roupa. Justificava por que gostava de estar nua deitada na cama, coberta pelo fino lençol, já que algumas restrições sobre seu corpo ainda possuía.
Busca por um cigarro, e o breu do quarto é interrompido apenas pela brasa sendo acesa e a fumaça subindo em formas disformes e desaparecendo ante seus olhos: borrados de rímel e lágrimas. O rastro do cheiro mentolado já ficava um pouco enjoado, mas ainda assim, tragar, sorver, era um bálsamo. De câncer e nicotina. De saudade e raiva. De dor de cabeça e tontura, de incredulidade e afeto, e principalmente de sua obsessão pelo controle da mente e do corpo alheio.
Não do seu corpo, da sua mente.
Dos outros. Seus brinquedos.
Afinal, se preocupar consigo mesmo, não é um hábito praticado. Seria desejável, mas absolutamente: indispensável.
Que graça teria se tripudiasse em cima de suas emoções e deixasse livre os outros à seu redor?
Garotas querem apenas diversão.
Ao longe ela escuta uma voz bonita, explicando sobre algo que deveria ser importante e levado em consideração, mas como criança mimada, seus ouvidos eram treinados para ouvir apenas aquilo que a agrada, mesmo que isso nem sempre seja verdade, apenas mentiras mais interessantes ao mundo dela. Dela dela dela e somente dela.
Egoísta, fica distante e já nem vê mais que a noite e a companhia foram ótimas. Apenas percebe, que nada do que planeja é como deveria ser. Nada está no lugar onde designou que estivesse. Nem ninguém. A palma de sua mão está vazia, e não completamente ocupada pelo desejo que aquele outro corpo no quarto retém. Seus carinhos não o alcançam, seus sorrisos que já havia conquistado tantos corações, como reis conquistaram reinos, não surtiam efeito e sua mente sempre atenta não pensava com clareza. Não sabia o que dizer. A língua já treinada há muito para ferir como navalha soltava frases desconexas e infantis.
Fazia biquinho, desviava o rosto, se irritava e queria gritar, bater, chorar de ódio.
Por quê era diferente? Por quê seu controle não atingia? Perdera o jeito? O charme? A beleza? Seu sexo não era mais convidativo?
Não entendia o que poderia ter dado errado, em que momento deixou de dar as cartas desse jogo. Jogo? Fora realmente um jogo em algum momento?
E como sairia disso?
Não mais ganharia? Iria perder pela primeira vez após tanto tempo invicta?
- Por que você sempre precisa controlar?
- Não sei mais agir de outra forma, sem o controle, o que sobra?
- Diversão talvez? Apenas sentir e ver no que dá?
- Apenas sentir? Ver no que dá? Sentir que estou perdendo terreno e vendo que vou mais uma vez, me doar ao caos?
E assim como veio, vai embora repentinamente, como se o próprio anticristo a perseguisse.
- E as borboletas esmagadas ressuscitam para assombrá-la, querendo vingança.
Prepare o jardim Alice, elas estão voando até você e já lhe esmagam como você fez com elas. - disse o coelho.
Karma.
Busca por um cigarro, e o breu do quarto é interrompido apenas pela brasa sendo acesa e a fumaça subindo em formas disformes e desaparecendo ante seus olhos: borrados de rímel e lágrimas. O rastro do cheiro mentolado já ficava um pouco enjoado, mas ainda assim, tragar, sorver, era um bálsamo. De câncer e nicotina. De saudade e raiva. De dor de cabeça e tontura, de incredulidade e afeto, e principalmente de sua obsessão pelo controle da mente e do corpo alheio.
Não do seu corpo, da sua mente.
Dos outros. Seus brinquedos.
Afinal, se preocupar consigo mesmo, não é um hábito praticado. Seria desejável, mas absolutamente: indispensável.
Que graça teria se tripudiasse em cima de suas emoções e deixasse livre os outros à seu redor?
Garotas querem apenas diversão.
Ao longe ela escuta uma voz bonita, explicando sobre algo que deveria ser importante e levado em consideração, mas como criança mimada, seus ouvidos eram treinados para ouvir apenas aquilo que a agrada, mesmo que isso nem sempre seja verdade, apenas mentiras mais interessantes ao mundo dela. Dela dela dela e somente dela.
Egoísta, fica distante e já nem vê mais que a noite e a companhia foram ótimas. Apenas percebe, que nada do que planeja é como deveria ser. Nada está no lugar onde designou que estivesse. Nem ninguém. A palma de sua mão está vazia, e não completamente ocupada pelo desejo que aquele outro corpo no quarto retém. Seus carinhos não o alcançam, seus sorrisos que já havia conquistado tantos corações, como reis conquistaram reinos, não surtiam efeito e sua mente sempre atenta não pensava com clareza. Não sabia o que dizer. A língua já treinada há muito para ferir como navalha soltava frases desconexas e infantis.
Fazia biquinho, desviava o rosto, se irritava e queria gritar, bater, chorar de ódio.
Por quê era diferente? Por quê seu controle não atingia? Perdera o jeito? O charme? A beleza? Seu sexo não era mais convidativo?
Não entendia o que poderia ter dado errado, em que momento deixou de dar as cartas desse jogo. Jogo? Fora realmente um jogo em algum momento?
E como sairia disso?
Não mais ganharia? Iria perder pela primeira vez após tanto tempo invicta?
- Por que você sempre precisa controlar?
- Não sei mais agir de outra forma, sem o controle, o que sobra?
- Diversão talvez? Apenas sentir e ver no que dá?
- Apenas sentir? Ver no que dá? Sentir que estou perdendo terreno e vendo que vou mais uma vez, me doar ao caos?
E assim como veio, vai embora repentinamente, como se o próprio anticristo a perseguisse.
- E as borboletas esmagadas ressuscitam para assombrá-la, querendo vingança.
Prepare o jardim Alice, elas estão voando até você e já lhe esmagam como você fez com elas. - disse o coelho.
Karma.
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